16 de dez. de 2010

J’ACUSE !!!

Recebi essa mensagem de um amigo, resolvi colocá-la aqui porque ela nos leva a uma reflexão.
Eu concordo plenamento com o texto do advogado, acredito que até já passou da hora de se repensar a educação escolar e familiar.


(Eu acuso !)
(Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes)
« Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice. (Émile Zola)
Meu dever é falar, não quero ser cúmplice. (...) (Émile Zola)
Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que... estudar!).
A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro.
O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares.
Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de convivência supostamente democrática.
No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando...
E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.”
Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno – cliente...
Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”.
Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.
Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:
EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;
EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos oprimidos”e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;
EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;
EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil dos alunos”;
EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;
EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;
EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;
EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;
EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito” de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;
EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “ nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;
EU ACUSO os “cabeça – boa” que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito,
EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;
EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.
EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;
EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;
Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos -clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia.
Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”.
A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.”
Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.

Igor Pantuzza Wildmann
Advogado – Doutor em Direito. Professor universitário.

20 comentários:

De *Snegs de Biufrais* disse...

Convivo diariamente com a precariedade da educação... Trabalho numa escola pública do estado de São Paulo. Lamentável!


Parabéns pelo blog!

kbritovb disse...

é realmente triste a situação do país hj
violência e mais violência sem punição

Allan Lemos disse...

Infelizmente é a realidade do nosso país, vivemos um verdadeiro apocalipse e pouco fazemos para reverter tão situação.

Macaco Pipi disse...

tá tudo perdidooo!!!

Daia Scarlet disse...

a siutação atual está realmente precária.. :S

Dan disse...

"Educa tuas crianças e não precisara puni-los quando adultos. "

Isso é um reflexo da educação sucateada pelo poder publico. A estrutura de uma nação está na educação, e é justamente esse ponto que mais apodrece.

A solução não é castigar, O dito que escreveu o texto encaixa-se justamente num termo ai posto por ele "pseudo-intelectuais de panfleto"

Unknown disse...

Eu não consigo compreender como se chegou neste ponto... Não faz tanto tempo e havia algum respeito por esta profissão tão importante e pela educação...
Detesto o rumo que se está tomando..
Texto preciso!

Obrigada por compartilhar!

;D

palavras ao vento disse...

disse tudo....

bia santos disse...

Professor uma profissão em extinção.

Muito bom!

Paulo Sousa disse...

Infelizmente é a realidade do nosso país!é uma pena .-.

Luci disse...

é verdade, a situação está triste mesmo
e temo q a coisa ainda possa piorar

Tadeu Baptista disse...

Por mais que muitos tentam, o principal motor de mudança numa sociedade continua na mesma. Melhora de quando em vez, mas sem grande impacto.

Gostaria de ver um crescimento anual na qualidade de ensino de 8%, como na economia. Pena que o mundo seja o lucro.

Lua- Eu Crio Moda disse...

Eua cho q esse texto e muito importane, tenho permissão para divulgá-lo no meu blog?

Marcus Alencar disse...

Hoje em dia ser professor está se tornando uma profissão de risco. Considero lamentável que a situação tenha chegado a esse ponto, ainda mais graças as ``contribuições`` do estado que des-valoriza ainda mais o professor.

MayanaPin disse...

e tudo pode piorar ;x

www.mayanapin.blogspot.com

Jana Cambuí disse...

A educação é o berço: da desigualdade (como diria Cristóvam Buarque) ou do progresso, dependendo de como não só os governos, mas também a sociedade civil a enxergue e coloque em prática.

Iguimarães disse...

Sou professor também.
Isso faz falta,com certeza.
Grande abraço

Luilton disse...

Minha opinião é igual à do advogado.
Mas acredito que o problema não começou exatamente na escola.
Lembro que uma vez eu cheguei em casa reclamando da minha professora pra minha mãe, dizendo que ela era muito chata porque passava muitos deveres de casa, e minha mãe disse o seguinte: "cale a boca e faça cada um dos deveres que ela passou, ande logo."

Os pais são coninventes com essa situação. Estão criando os filhos como deuses, e permitem até que eles decidam as coisas.

Eu, como pai, vou fazer a minha parte e seguir o exemplo da minha mãe, que me tornou aquilo que sou hoje. Mas a situação não está fácil.

Abração, @AnonimoFamoso. :)

Marcos Rosa disse...

O problema da educação brasileira não está necessariamente na escola.

belo Blog!
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Gosta de cinema? conheça este blog, recém nascido, mas tá legal!
http://algunsfilmes.blogspot.com/

◕‿◕ disse...

Está de parabéns pelo blog!
;)